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Carta de um ex-marido

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Querida Avelina:

Eu sei que o Juiz disse que não deveria haver contato entre nós, durante o nosso processo de divórcio, mas eu não consigo agüentar mais.
No dia em que você me deixou, eu jurei que nunca mais lhe dirigiria a palavra.
Mas isso era só mágoa dentro de mim. Eu nunca quis ser o primeiro a ceder. Na minha fantasia, era você que sempre voltava rastejando para mim.
Mas agora vejo que o meu orgulho me custou muito.
Estou farto de fingir que não preciso de você. E já não me importo em ceder. Talvez seja a hora de deixar meu coração falar mais alto do que a minha dor.
E isto é o que o meu coração diz… Não há ninguém como você, Avelina.
Eu lhe procuro nos olhos e seios e outras partes de cada mulher que vejo, mas elas não são como você.
Há alguns dias encontrei uma mulher em um bar e levei-a para casa comigo. Não digo isto para lhe magoar, mas apenas para ilustrar a profundidade do meu desespero.
Ela era nova, talvez 19 aninhos, com um daqueles corpos perfeitos que só a juventude e talvez uma adolescência toda dentro de uma academia de ginástica podem dar. Quero dizer, um corpo perfeito. Seios que não dá para acreditar e uma bunda tipo carapaça de tartaruga, redonda e dura. O sonho de qualquer homem, não é?
Mas enquanto estava sentado no sofá sendo chupado por essa jovem deslumbrante, eu pensei em você e naquilo que consideramos importante nas nossas vidas. É tudo tão superficial. O que é que um corpo perfeito significa? Será que a torna melhor na cama?
Bem, neste caso, sim. Mas você vê onde quero chegar? Será que isso a torna uma pessoa melhor? Será que ela tem um coração melhor do que a minha, moderadamente atraente, Avelina? Duvido. Eu nunca tinha pensado nisso antes. Não sei, talvez esteja amadurecendo um pouco…
Mais tarde, depois de lhe ter despejado uns decilitros de iogurte na garganta, dei por mim: “Por que é que me sinto tão esgotado e vazio?”
Não era apenas a sua técnica perfeita e a sua fome de sexo e luxúria, mas algo diferente. Um sentimento de perda. Por que é que me sentia tão incompleto?
E então percebi.
Não senti a mesma coisa porque não era você que estava lá, Avelina, percebe o que quero dizer? Nada significa nem tem o mesmo sentido sem você.
Por favor, Avelina, estou enlouquecendo sem você. E tudo o que faço me lembra você.
Lembra da Nathalia, aquela mulher maravilhosa que encontramos no resort, no ano passado?
Bem, ela passou aqui em casa na semana passada, com um pirex de lasanha. Ela disse que imaginava que eu poderia não estar comendo direito sem uma mulher por perto. Só mais tarde é que eu percebi, na verdade, o que ela queria dizer com “comendo direito”, mas essa não é a verdadeira história.
De qualquer maneira, bebemos uns copos de vinho e, passado um tempinho, estávamos jogando ludo no nosso velho quarto. E a devassa é um verdadeiro animal na cama. Ela fez tudo, sabe, assim, como uma verdadeira mulher faz quando não está preocupada com o peso ou a sua carreira ou se os filhos vão ouvir ou não?
E de repente ela viu aquele velho espelho giratório que está em cima da cômoda que era da sua avó.
Então ela agarrou no espelho e colocou-o no chão, de maneira que nós podíamos observar o que estávamos fazendo. Era uma sensação espetacular, mas isso me deixou triste também.
Tudo porque não consegui deixar de pensar, “Por que é que a Avelina nunca pôs o espelho no chão? Temos esta cômoda há anos e a Avelina nunca a usou dessa forma.”
Por fim, no sábado, a sua irmã passou aqui com a ordem judicial que me proíbe de me aproximar de você.
Quero dizer, a Paula ainda é uma garota, mas tem uma cabeça muito madura, um corpo maravilhoso e tem sido uma verdadeira amiga para mim durante estes tempos difíceis.
Ela tem me dado excelentes conselhos sobre você e sobre as mulheres em geral.
Ela está realmente empenhada em que nós fiquemos juntos novamente, Avelina. Está mesmo.
Então, numa destas ocasiões, estávamos bebendo uns drinks dentro da nossa banheira, cheia de espuma e falando dos tempos mais felizes.
Aqui está uma adolescente que tem o mesmo DNA seu e eu só consigo pensar nisso e chorar.
Nesse dia acabei descobrindo que a Paula gosta muito de sexo anal, o que me faz lembrar do número imenso de vezes que lhe pressionei para que experimentasse isso, e que talvez isto pudesse ter alimentado a nossa paixão.
Avelina: Na verdade, mesmo quando estou metendo por trás em sua irmã, tudo o que consigo fazer é pensar em você! É verdade, Avelina. E no fundo do seu coração, você sabe disso.
Não acha que podíamos começar de novo?
Acabarmos com as amarguras, com os ódios e começar tudo do zero? Eu acho que podemos.
Se você sente o mesmo, por favor me escreva, caso contrário, pode pelo menos me dizer onde está a porra do controle remoto da televisão?

Seu ex-marido…

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